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"Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada.”-Manuel Bandeira

            Manuel Bandeira, um dos autores mais expressivos do Modernismo, compôs este poema e outros para reuni-los no livro chamado Libertinagem, publicado em 1930. Quando Bandeira foi questionado a respeito do poema “Vou-me Embora para Pasárgada” o mesmo respondeu: ”[...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou, na minha imaginação, uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...].”

            Este poema trata de um momento da vida do autor de profundo desânimo, pois o mesmo contraiu tuberculose aos dezoito anos e aguardava a morte de forma solitária. Ele não só defendeu os ideais do Modernismo de inovação, como também fez poemas que remetiam à tradição, que é o caso do poema acima. De certa forma, o autor queria mostrar a imagem de uma terra imaginária e livre: ”Lá a existência é uma aventura; De tal modo inconsequente”.

            Ao contrário das fugas utópicas do Romantismo, Bandeira fez um escapismo simples. Ele, além de querer um lugar onde pudesse apreciar as coisas mais simples da vida, buscava a felicidade, e para realizar isto, usou a imaginação e a poesia, esta última, não a construiu de forma utópica e simples, escreveu-a bucólica, tal como dito em: “E como farei ginástica/Andarei de bicicleta/Montarei em burro brabo/Subirei no pau-de-sebo/Tomarei banhos de mar!/E quando estiver cansado/Deito na beira do rio/Mando chamar a mãe-d’água/Pra me contar as histórias/Que no tempo de eu menino/Rosa vinha me contar/Vou-me embora pra Pasárgada.”.

            Percebem-se duas palavras importantes no poema: “Rosa” e “alcaloide”, a primeira representa uma memória do autor, uma mulata que cuidou de Bandeira e seus irmãos quando pequenos, a segunda é uma substância química encontrada em plantas que é usada na fabricação de drogas.

Quanto aos aspectos formais do poema, ele possui redondilhas maiores, a rima dele é irregular, além disso, possui certa sonoridade e lírica leve, deferente das escolas literárias anteriores, como o Parnasianismo.

             Em suma, o poema representa plenamente os pensamentos do autor, houve também, várias adaptações para a música, como as feitas por Gilberto Gil e Paulo Diniz.

Análise de “Vou-me Embora pra Pasárgada”

Jeliel Augusto
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