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         Após a segunda temporada as coisas pareciam estar tomando os trilhos para BoJack e seus amigos, mesmo com todos os problemas passados. BoJack quase estragou tudo com uma velha companheira, mas seu filme vai ser lançado, Diane e Mr. Peanutbutter estão em uma crise no relacionamento, mas dispostos a superar, Princess Carolyn está pronta pra enfrentar os desafios de ser uma agente e Todd... Bom, Todd conseguiu o reconhecimento que merecia. Mas como já foi provado na série quanto mais alto se sobe maior é a queda.

        O clima de esperança que tomou conta do final do ano anterior e que está presente nos primeiros episódios desta aos poucos vai se desmanchando para dar lugar à poesia mórbida e reflexiva de Raphael Bob-Waksberg (criador e showrunner). Somos levados a refletir sobre questões que não estão ligadas apenas ao mundo exterior, mas que estão presentes em nosso íntimo e no dos personagens.

         Não que não existam críticas a sociedade e ao mundo contemporâneo – porque existem, e muitas! – mas é na relação dos personagens e nas suas idiossincrasias que o roteiro brilha. BoJack finalmente faz parte do mundo das estrelas de cinema, mas e agora? Tem uma enorme chance de ser indicado ao Oscar, por que então ele não está feliz? Esses acontecimentos e indagações são o motor dessa terceira temporada, que deixa um pouco de lado personagens secundários para focar em seu autodestrutivo e irreverente protagonista enquanto constrói uma catástrofe iminente.

       Tudo está amarrado e bem desenvolvido na série, que cada vez mais caminha para o drama e se afasta da comédia. É quase inacreditável como ela consegue tocar em pontos tão fortes e polêmicos e fazer o espectador refletir sobre eles e se emocionar mais do que muitas séries com atores reais consegue. À vezes esquece-se o fato de que é uma série animada com animais falantes e episódios de vinte e cinco minutos e não um drama da HBO ou AMC com episódios de uma hora.

         Mas a animação da Netflix pode – e deve – ser tratada como um drama, como um dos melhores, inclusive. Com episódios cheios de inventividades e lirismo (destaque para o 4º, Peixe fora d’água, onde quase não há diálogos) e outros que denunciam e refletem sobre questões atuais como abuso de álcool e drogas, homossexualidade, objetificação da mulher e depressão de maneira cômica sem deixar de lado a importância de retratar e discutir tais temas.

         Com um último episódio que não tem medo de chocalhar completamente as coisas e uma cena final digna de um filme de Terrence Malick (além de um mistério que pode abalar de forma sísmica a temporada seguinte com sua revelação) BoJack Horseman se estabelece como uma das melhores séries e a melhor de animação adulta dos últimos anos, com o poder de fazer rir e emocionar quem quer que esteja assistindo e de fazer repensar a maneira como enxergamos e vivemos a vida.

        Resta saber se a próxima temporada, que estreou recentemente na Netflix, manterá o nivel das anteriores e para qual rumo ela levará a história do decadente astro dos anos 90 que parece se aproximar cada vez mais do fim. Uma coisa é certa Bojack Horseman foi a melhor criação da televisão para falar abertamente de tabus que preferimos esquecer.

Crítica-BoJack Horseman 3ª Temporada

Vinícius Souza
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