"As Máscaras

O teu beijo é tão doce, Arlequim...
O teu sonho é tão manso, Pierrô...

Pudesse eu repartir-me
encontrar minha calma
dando a Arlequim meu corpo...
e a Pierrô, minha alma!

Quando tenho Arlequim,
quero Pierrô tristonho,
pois um dá-me prazer,
o outro dá-me o sonho!

Nessa duplicidade o amor todo se encerra:
Um me fala do céu...outro fala da terra!

Eu amo, porque amar é variar
e , em verdade, toda razão do amor
está na variedade...

Penso que morreria o desejo da gente
se Arlequim e Pierrô fossem um ser somente.

Porque a história do amor
só pode se escrever assim:
Um sonho de Pierrô
E um beijo de Arlequim!

As Máscaras.”-Menotti Del Picchia

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            O poema acima é uma das mais famosas obras do escritor modernista Menotti Del Picchia, onde o eu lírico interpreta o papel de Colombina (personagem de Commedia dell’Arte, gênero teatral popular italiano do século XVI), que se vê dividida entre o amor inocente de Pierrô - sentimental e sonhador, com seus pensamentos distantes, “no mundo da lua”- e os prazeres que lhe são oferecidos por Arlequim - entregue aos prazeres carnais, com o pensamento de que nenhuma mulher merece seu amor- (também personagens de Commedia dell’Arte), sendo este o tema do poema.

            A obra inicia-se com “O teu beijo é tão doce, Arlequim... O teu sonho é tão manso Pierrô...”, evidenciando o conflito interno da personagem. Esse conflito também é visto em “Pudesse eu repartir-me encontrar minha cama dando a Arlequim meu corpo... e a Pierrô, minha alma”. Diferencia-se o tipo de amor das personagens. Nota-se o amor carnal (oferecido por Arlequim) e o amor puro (dado por Pierrô).

            Apesar da dualidade sentida pelo eu lírico, ele não deseja que esse conflito termine, pois necessita de um para suprir o que o outro não oferece, acreditando que poderia amar alternando entre os amantes indicado em “Eu amo, porque amar é variar e, em verdade, toda razão do amor está na variedade...”. E a obra se encerra com um trecho da peça que confirma a afirmação anterior “Porque a história do amor só pode se escrever assim: Um sonho de Pierrô E um Beijo de Arlequim! ”.