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Análise da obra "Manifesto da Poesia Pau-Brasil" de Oswald de Andrade

Lóren Bacelar

        Publicado em 1924 no jornal "O Correio da Manhã", o “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” tornou-se um dos textos mais importantes de Oswald de Andrade e é considerado a obra ícone do modernismo brasileiro. O manifesto foi desenvolvido pelo autor em tom de paródia e de festa. As frases encontram-se justapostas num estilo telegráfico, repetitivo e apresenta-se como uma prosa poética pautada por aforismos.

        O texto reivindica uma linguagem natural, que fosse contra a prática culta da vida e que representasse a forma como de fato nos expressamos. Dessa forma, ele apresentou uma arte que se aproximava mais do povo. O texto sugere uma absorção crítica da modernidade europeia. Oswald expressa no texto o desejo de que o Brasil passasse a ser cultura de exportação, assim como foi a árvore pau-brasil. Defende também que a sua poesia seja um produto cultural que não deva nada à cultura europeia e que possa, inclusive, vir a influenciá-la.

        Quanto à forma do manifesto, pode-se dividi-lo em três momentos ou movimentos: o primeiro vai do início ao quarto verso, o segundo do quinto ao décimo e o terceiro finaliza o poema. Como já mencionado, o texto apresenta-se como uma prosa poética fundamentalmente marcada por aforismo. Isso pode ser observado do início ao fim. É importante destacar alguns pontos altos de cada momento para uma completa compreensão do manifesto.

        Na primeira parte, o autor começa com: "a Poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos." Nesse trecho, destacam-se a ironia e a reversão utilizadas pelo autor, na medida em que ele evoca a poesia genuinamente brasileira, inspirada da paisagem e da cultura brasileiras. Mantendo o tom de festa, nos dois últimos versos dessa parte a paisagem é descrita de forma a passar a noção de movimento, como se esta estivesse de fato viva.

        No segundo momento, cita-se a chegada de cruzados, que são os novos bandeirantes em busca do ouro plantado. Evoca-se o tempo antigo em que os reais cruzados existiam. Uma leitura minuciosa do manifesto permite ao leitor perceber o combate feroz à gramática portuguesa, à língua parnasiana e simbolista. O trecho "O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente" serve para ilustrar essa crítica e o conservadorismo da escrita brasileira vigente.

        No terceiro momento, que é o restante do manifesto, ainda pode-se notar o combate do autor à gramática portuguesa. Oswald reivindica "a língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos." Assim cria-se a poesia pau-brasil, apoiada nas normas gramaticais brasileiras, desvencilhada da influência lusitana, caracterizada como "ágil e cândida. Como uma criança", "poesia de exportação". Além disso, justapõe-se o passado e o presente. Segundo ele, as raízes coloniais vingam os frutos da burguesia nascente. É um contraste, não de espacialidades, mas de tempos.

        Pode-se notar que Oswald atenta, durante todo o manifesto, para a necessidade dos brasileiros estarem voltados à realidade do país de forma bem mais intensa do que o que realmente é feito. Ele era completamente contra uma certa visão estereotipada e preconceituosa típica das belas-artes europeias que dominaram o Brasil por muito tempo. Dessa forma, o manifesto propunha uma valorização dos estados primitivos da cultura brasileira, assumindo criticamente os contrastes históricos e culturais aos quais a população do país foi submetida.

        Esse manifesto também apresenta uma proposta de literatura vinculada à realidade, a partir de uma visão concreta, possibilitando uma tomada de consciência de si mesmo e uma "redescoberta do Brasil". Portanto, a obra de Oswald de Andrade apresenta um caráter social que busca uma identidade cultural brasileira, baseada nas misturas entre as tradições e crenças brasileiras. Analisando o manifesto como um todo e apresentando-se um resumo geral, pode-se definir suas características principais:

  • Revisão crítica do passado histórico;

  • Abandono do academicismo;

  • Valorização da identidade nacional, originalidade;

  • Linguagem coloquial e humorada.

Contexto Histórico do Modernismo

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