top of page

    Era domingo. Saí de casa passando pela marina para ir até a academia na Bay Dr. Não queria encarar a situação como um caos completo e era complicado aceitar que meus pais estavam na costa oeste do país, seguros, enquanto eu estava à mercê “daquilo”. Tampa é uma cidade importante da Flórida e vir pra cá a estudo não foi a melhor coisa que fiz… Quem em sã consciência optaria por morar sozinho tendo depressão a ficar ao lado de seus pais no conforto da Califórnia? Mas quem disse que estou agindo conscientemente?

    Ver as ruas totalmente desertas não foi uma completa novidade - já que essa era a ordem que corria em todos os jornais, nas rádios e, enfim, era meio que impossível! Mas, e daí? Vou fazer do meu jeito. Prosseguindo pelas ruas a pé pude ver a casa dos McArthur, eram realmente adoráveis. Minha família nunca foi nem seria assim, o pai era fiel, respeitoso e preocupado com os filhos, pelo menos aparentemente! Talvez o único “defeito” da família perfeita fosse a homossexualidade de Fill, afinal, o senhor McArthur era um homem totalmente conservador.

    Andando e andando mais… aquele vento gelado congelava minhas bochechas. Medo. Mas não o suficiente pra voltar atrás. A casa dos Miller era por ali também, mas não conseguia identificar bem por causa da cortina de poeira que já vinha se elevando sobre o horizonte. Os Miller eram uma família comum de imigrantes alemães. Hans, o padrasto bem apessoado, era na verdade um completo desregrado, pervertido e hipócrita – tinha seduzido duas de suas alunas na universidade no último semestre e pelo que dizem não eram o primeiro caso.

Sempre fui observador, dizem que quando se tem transtornos emocionais você acaba tornando o problema dos outros um pouco seus...e isso é doloroso. Os Montgomery, por exemplo, não tiveram nenhuma assistência à sua filha leucêmica, era uma boa menina mas parece que viver por muito tempo não foi o seu destino. Enfim, chega de falar dos outros – esse é meu momento!

    Viver com depressão é viver como um doente terminal sem poder perder a consciência. É estranho desejar estar em coma… mas acho que seria a única saída para estar vivo e não ter que pensar sobre como tudo que parecia bom antes é, hoje, a pior parte da minha vida. Sem sono, sem fome, sem ânimo, sem graça – a vida não tem graça! Não há sentido para buscar abrigo, não há sentido para ir em direção ao olho do furacão. Nada faz sentido a não ser o fato de que tudo não faz sentido… e isso realmente não tem nem um pingo de sanidade.

    Continuei a andar. Acho que isso daria uma boa cena. O funil do furacão se aproximava, não imaginei que era tão real assim e forte, muito forte. Talvez ele representasse tudo que eu não consegui ser. Nada o podia parar, nenhum parente, nenhuma parede, sem leis, sem regras – ele era imponente. Quem sabe meu lugar fosse realmente dentro dele, ele seria como o cara alto e forte que oferece ao cara pequeno e fraco, obviamente eu, a segurança para seguir com os planos. Barcos eram puxados, casas sem teto, os animais já haviam fugido, mas eu estava lá, caminhando em direção a ele. Me apaixonei e fui abraçado por ele. Era o único lugar onde só eu poderia ser quem eu queria ser de verdade! Obrigado, Irma!    

Meu Refúgio

Levi Álef
  • Instagram - Black Circle
  • Facebook - Black Circle
  • Twitter - Black Circle
© 2016 - Criado pelo 2º ano de Informática da Fundação Matias Machline
bottom of page