


MUIRAQUITÃ

O filme dirigido por Jim Jarmusch conta uma semana na vida do motorista de ônibus e poeta Paterson (sim, homônimo da cidade o que vem a ser só mais um bom detalhe dentro do filme). Devo logo avisar, o filme é daqueles que você tem que assistir "honesto" devido seu forte tom lírico ele flui calmamente e no seu ritmo e essa é uma das melhores partes do longa de 113 minutos.
A proposta do filme se parte de um olhar diferente a vida cotidiana, como uma história nada extraordinária pode conter tantas nuances e o olhar além de Jarmusch espelha bem isso nos diálogos, quadros, cores, poemas e figurino ao longo da obra e dessa forma, nada comum de fazer cinema, o diretor consegue demonstrar a beleza que existe em viver mesmo que uma vida simples.
A parte cativante para a audiência se dá através do olhar simples e poético de Paterson entre seu trabalho, diálogos com a esposa(Laura) e passeio com cachorro até o bar. A estrutura do filme pode ser encaixada em uma poesia pós-moderna (Como por exemplo William Carlos William, grande ídolo de Paterson) onde há repetição de certos elementos que podem parecer esquisitos (Tal como a constante aparição de gêmeos ou sua única cerveja no bar) mas funcionam como os versos e estrofes da obra.
Sua esposa é um ponto importante para o enredo, ela é a mudança e o constante desafio enquanto Paterson apenas observa e solta palavras de apoio quando o convém. As cenas com a Laura são as mais dinâmicas dentro do filme, ela tem uma fixação por arte e culinária resultando em cortinas, canecas... Em preto e branco e pratos exóticos ou ainda objetivos repentinos e sem razão realmente plausível (Tal como virar a rainha do cupcakes e se tornar a maior cantora de country sem saber tocar violão). Mas, a melhor parte são os diálogos entre Laura e Paterson do dia-a-dia onde não existe uma romantização no roteiro e sim a apreciação do simples e de um relacionamento "puro".
Os belos quadros demonstram a delicadeza do filme onde mesmo uma cidade numa depressão econômica (é uma ex-"cidade fábrica") continua tendo vida, Paterson (Cidade e pessoa) mostra-se pacífico e fora de questões grandes como preconceito racial ou em quem votar nas próximas eleições. A fotografia é caracterizada pela sua paleta de cores em tons pastel quanto a cidade, na casa de Paterson se torna mais escura devido a cortinas e a decoração em preto e branco de Laura (Que evolui conforme o filme).
O filme é uma obra do banal, o lirismo do cotidiano e nada épico, é um filme sobre tantas coisas: Sobre sonhos e poesia, sobre os encontros casuais que a vida tem onde alguns instantes de uma conversa (Pessoal ou alheia) pode curar. Sobre a proximidade, mas também a inerente solidão que existe num casal. Sobre como as coisas que fazemos no nosso tempo livre podem nos definir. É um grande filme, misterioso, mas isso é bom também.