


MUIRAQUITÃ

HEADER: A (BOA) SIMPLICIDADE DO JUMPSCARE
De uns anos pra cá o cinema de terror vem recebendo títulos que surpreendem pela criatividade. Corrente do Mal (It Follows, 2014) e A Bruxa (The Witch, 2015) são bons exemplos de filmes que fogem do famigerado jumpscare dos circuitos comerciais e apostam em histórias mais macabras e na autoria de seus diretores. Quando as Luzes se Apagam (Lights Out; 2016) está no meio termo dos dois conceitos (pendendo mais para o lado comercial).
A história é simples e não demora muito para engrenar. A agilidade do roteiro é um traço reconhecível do produtor James Wan, que não perde muito tempo com introduções e parte logo para o medo. Uma entidade maligna que desaparece à luz branca está decidida a matar os familiares de Sophie (Maria Bello), mais especificamente seus dois filhos (Teresa Palmer e Gabriel Bateman). Revelar qualquer coisa a mais sobre a trama seria spoiler e estragaria o mistério que se constrói ao longo do filme.
As primeiras cenas lembram muito o clima e estilo de edição do curta que inspirou o filme: Câmera nas costas dos personagens e uma ameaça, que parece ser um humano deformado, aparece e some com o liga e desliga das luzes. O diretor (David F. Sandberg), que também dirigiu o curta, aposta nesse formato durante todo o filme. A edição, no começo, parece deslocada e dá a impressão de que estamos assistindo pequenos segmentos de sustos, mas a partir do momento em que todos os personagens são apresentados ela se normaliza e até se mostra precisa nos momentos de tensão.
Os personagens são um ponto morno do filme. Por um lado eles são bem rasos e seus arquétipos são facilmente reconhecíveis – a filha rebelde, o namorado descolado, a mãe traumatizada – e os atores não mostram nada mais que uma performance mediana, com exceção do menino Gabriel Bateman e de Alexander DiPersia, que entregam um trabalho realmente satisfatório em alguns momentos do filme. Por outro lado, não existem personagens descartáveis e a interação entre eles funciona bem, o drama familiar não chega a ser excessivo ou muito superficial, ele move a história mas, é o medo que prevalece.
O roteiro mais parece um grande MacGuffin para criar as situações assustadoras. Porém, há um certo timming para os momentos tensos ou engraçados e para os sustos, que é bem utilizado. O melhores pontos do filme ficam a cargo da direção nos momentos de horror e da ambientação. As cenas com a criatura são bem feitas, precisas e coesas, no primeiro momento algumas ações podem soar como furos nas regras do filme, mas fazem sentido, demonstrando uma grande capacidade de brincar com a expectativa do público e com o próprio universo do longa. O final poderia ter se tornado uma grande sequência de ação com policias e correria, mas ele se mantém simples e funcional e nem por isso fica menos interessante. A ambientação com lugares escuros e uma casa que ao mesmo tempo é estranha, porém crível, funciona sinergicamente com a dinâmica do filme.
Todos os fatores do longa, juntos, formam um conjunto satisfatório, a maioria dos elementos se mantém mais ou menos na média e alguns outros demonstram uma grande competência. Ele poderia ter ousado mais, buscado uma linguagem diferente para falar do medo do escuro em contraste com o conforto que é deixar as luzes acesas na hora de dormir (como Hush, também de 2016, brinca com os sons e segurança que eles nos passam), mas a obra de Sandberg prefere jogar no seguro e não erra necessariamente ao fazer isso.
Quando as Luzes se Apagam não é uma revolução no gênero ou algo tão interessante quanto outros filmes que vem aparecendo recentemente, mas é competente e vai entreter fãs de terror e aqueles que se divertem com sustos. David F. Sandberg pode vir a ser um nome promissor e sua parceria com James Wan (Sandberg está cotado para dirigir a continuação de Annabelle) pode gerar bons frutos, caso haja mais liberdade criativa e menos foco em spin-off de franquias ou adaptações.