


MUIRAQUITÃ

SOBRE:
Em Cobra Norato, Raul Bopp cria um drama épico e mitológico nas selvas amazônicas utilizando verso livre, elementos do folclore e da fala regional e fundindo imagens originais com um ritmo tenso e sintético, quase telegráfico.
Como Macunaíma, em busca do seu talismã, Cobra Norato sai, também, na demanda da Rainha Luzia, mãe da filha com quem deseja casar-se.
O poema pode ser dividido em duas partes que estabelecem um contraste: a primeira parte, mostra um Brasil industrial-urbano; já segunda, refere-se ao Brasil interiorano e rural. O poema ainda mostra um país dividido entre o interior e a capital, onde o atraso do primeiro revitaliza as forças contra a riqueza do último.
RESENHA:
No meio da noite, o eu-lírico estrangula a Cobra Norato e veste-se com sua pele elástica para sair em busca da filha da Rainha Luiza (com quem deseja casar-se). O poeta sai dos confins da floresta amazônica em direção a Belém do Pará.
A primeira medida a ser tomada é apagar os olhos, escorregar no sono e entrar na floresta cifrada. Cobra Norato avança e cumpre as missões impostas pelo mascarão que encontrou no meio do caminho: passar por sete portas, ver sete mulheres brancas de ventres despovoados, entregar a sombra para o Bicho do Fundo, fazer mirongas na luva nova e beber três gostas de sangue. E mesmo assim, não encontra a moça, resolvendo continuar sozinho pela selva.
O caminho torna-se macabro, é a floresta de hálito podre e de raízes desdentadas. Uma árvore velha enfileira as jovens árvores condenadas a produzir as folhas que cobrem a floresta. E Cobra Norato alcança o fundo da floresta, onde a terra é fabricada e as árvores passam a noite tecendo folhas em segredo e se vê perdido em um escuro labirinto de árvores. A atmosfera denuncia chuva e quando a mesma desaba, o vento saqueia as vegetações, nuvens negras se amontoam, lagoas arrebentam e árvores se abraçam.
Em meio a isto tudo, Norato atola-se em um útero de lama, onde sai graças a ajuda do tatu que se transforma também em companheiro de viagem. Depois, há um momento de descanso e de tristeza, Cobra lamenta-se por não achar a filha da rainha Luzia. O tatu acaba por propor que os dois partam para o lago da Onça-Poiema, Norato refresca-se nas águas do rio e comunga com os animais que pastam por ali. Quando a noite se fecha, ambos partem de onde estão.
O tatu avisa para Norato que a maré naquele dia começará a ser grande e os dois seguem para Bailique, onde querem ver a pororoca. Quando a lua cheia está a pino, vêm a onda grande que arrasta tudo e na força da enchente, eles navegam para uma polpa de mato onde Cobra Norato descansa, mas a fome vem para os dois e partem pra o Partirum roubar tapioca.
Na casa das farinhadas grandes, Joaninha Vintém conta o caso do boto que a surpreendeu enquanto lavava roupa e vendo a animação da festa, Norato e o tatu viram gente, cantando, dançando e na hora de partir, Joaninha pede para ir junto, mas Norato não aceita. Ambos voltam para o corpo que deixaram fora e continuam a viagem.
Flutuando no rio, Norato vê um navio com casco de prata, mas o tatu diz que na verdade, é a Cobra Grande, que aparece para buscar alguma moça virgem em época de lua cheia e o mesmo vai para Macapá e Norato resolve ver o casamento da Boiúna.
A caminho do casamento, Norato pede ao vento que o deixe passar, encontra-se com o saci e com o pajé-pato que arreda o mato em troca de cachaça. Cobra Norato e o tatu continuam.
Na casa da Boiúna, um cururu está de sentinela e Norato vai pelos fundos da grota e avista a noiva, que é a filha da rainha Luiza. Norato pede a tamaquaré, seu cunhado que corra imitando seu rastro, que entregue o seu pixé na casa do pajé-pato, pois Cobra Grande acordou e começou a persegui-lo. Ao chegar à casa do pajé-pato, Cobra Grande é direcionada para o caminho errado, sendo levada para Belém e com isso, Norato volta para as terras altas e leva consigo a noiva, para estar com ela numa casa de porta azul pequena pintada a lápis de cor e é neste lugar que o mesmo esperava por todos para a festa de casamento que havia de durar sete luas e sete sóis.