


MUIRAQUITÃ

Análise de Soneto Único, de Guilherme de Almeida
SONETO ÚNICO
Vejo a sombra partir-se pelo meio
e pôr-me duas pálpebras na face;
minha boca de sede bebe o seio
de alguma estrela que me amamentasse;
tem um peso de terra o corpo alheio
que há no meu corpo; em meus ouvidos nasce
uma árvore cantando um vento cheio
de céu em cada enlace e desenlace;
em minhas mãos paradas pousam ninhos;
vão os passos de todos os assombros
andando as minhas veias de caminhos;
e há, para o vôo aceso numa aurora,
pressentimentos de asas nos meus ombros
— quando a Moça da Foice me namora.
Guilherme de Almeida participou, mesmo que eventualmente, da Semana e o do movimento modernista de 1922 e foi o primeiro dentre seus colegas a adentrar a Academia de Letras. Dono de uma grande popularidade sabia mesclar muito bem o novo e o convencional na escrita de suas poesias, ora rompendo com o conceito métrico e ora obedecendo-o rigorosamente.
Seu poema, Soneto Único, possui uma versificação que segue os conceitos clássicos estabelecidos na produção de versos. Os versos possuem dez sílabas, alternando entre jambos e anapestos o que cria uma declamação precisa para os efeitos sonoros realizados.
Guilherme de Almeida sabia como atingir o público médio ao mesmo tempo em que criava versos cheios de profundidade e gravidade emocional, por isso utilizava de um vocabulário simples e informal que provinha diretamente do cotidiano. Para criar a profundidade e beleza Guilherme utilizou de metáforas, metonímias e perífrases.