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“Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário

o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais

Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção

Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador

Político

Raquítico

Sifilítico

De todo lirismo que capitula ao que quer que seja

fora de si mesmo

De resto não é lirismo

Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante

exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes

maneiras de agradar às mulheres, etc

Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbedos

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.”

                                                       Poética - Manuel Bandeira

          O modernismo foi a busca pela liberdade de estilo, pela quebra de paradigmas, versos brancos que visavam quebrar com o padrão artístico da época. Absorveu muito das vanguardas europeias do pré-guerra como o Cubismo e o Futurismo. Dividiu-se em três gerações, sendo a primeira sua fase mais radical e polêmica, fase esta na qual participa Manuel Bandeira.

          Manuel Bandeira encontrou na poesia uma forma de distração, de expressão para toda a sua introspecção. Era apaixonado por música e arquitetura, porém aos dezoito anos contraiu tuberculose e viu-se obrigado a trancar seus estudos. Morreu aos oitenta e quatro anos, sendo considerado um dos precursores do modernismo brasileiro, dotado de uma singular forma de enxergar o mundo e extrema sensibilidade. Escreveu poemas como Vou-me embora pra Pasárgada, onde cria um paraíso particular recheado de erotismo e liberdade.

          Mas nenhum poema é melhor para exemplificar essa primeira fase tão inovadora e violenta para com o que vinha antes do que Poética, que começa seus versos com o eu lírico extravasando de que está farto do lirismo que obedece às normas, que são lidos por funcionários públicos ao fim de seus expedientes. Ele também se mostra irritado com o vocabulário utilizado nas produções. Isso se evidencia na parte "Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo". Ele se diz cansado do lirismo namorador, político e de qualquer outro que faça referência a algo externo ao autor. Ele finaliza então dizendo sua preferência a obras mais introspectivas e inventivas: "Quero antes o lirismo dos loucos".

          Mesmo que o Modernismo em sua segunda fase tenha a maior parte do discurso de quebra de paradigmas deixados de lado, é inegável a importância que teve autores da primeira fase, como Manuel Bandeira, para a poesia brasileira, influenciando diversos autores de épocas sucessoras.

Um breve estudo sobre Manuel Bandeira, Poética e a primeira fase do Modernismo

JH
Poeta bêbado, maçã podre.

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