


MUIRAQUITÃ

João Victor Tribuzy
Análise do poema “Monjolo” de Raul Bopp
Monjolo
"Fazenda velha.
Noite e dia
Bate-pilão.
Negro passa a vida ouvindo
Bate-pilão.
Relógio triste o da fazenda.
Bate-pilão.
Negro deita.
Negro acorda.
Bate-pilão.
Quebra-se a tarde.
Ave-Maria.
Bate-pilão.
Chega a noite.
Toda a noite
Bate-pilão.
Quando há velório de negro
Bate-pilão.
Negro levado pra cova
Bate-pilão."
O poema faz alusão a vida do negro durante a época da escravidão no Brasil, que durou até o século XVIII, porém, mais especificamente em relação a vida nos engenhos. Tal fato é evidenciado de duas formas, primeiramente, pelo título do poema, “Monjolo”, que é uma máquina hidráulica rústica de moer grãos, utilizada no Brasil durante a época colonial, e, verso “Bate-pilão”, evidenciando a alusão ao monjolo.
Os primeiros dois versos mostram a visão do negro em relação ao ambiente em que vivia, a visão monótona e repetitiva que era contemplada, como o próprio verso já diz, noite e dia, o engenho ou “Fazenda velha”. Já o quarto verso mostra outro sentido, a audição, representando o som que o escravo escutava todos os dias, “Bate-pilão”. O sexto verso apenas comprova mais ainda a monotonia e a tristeza trazida pelo engenho.
O oitavo e nono versos mostram como se dá o deitar e o levantar na fazenda, ambos com o mesmo som, “Bate-pilão”, mostrando que logo depois de acordar e antes de dormir o escravo ainda se encontra trabalhando, fato também evidenciado no décimo quarto e décimo quinto versos. No décimo primeiro e décimo segundo versos pode-se observar que nem mesmo diante da religião o escravo deixa de ouvir o mesmo som. E, por fim, nos versos dezessete e dezenove, mostra que até na morte o negro ainda escuta o maldito “Bate-pilão”.