Um pouco sobre o autor e a obra em questão

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Autorretrato

Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

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            Manuel Bandeira foi um dos maiores poetas da literatura brasileira. Geralmente, em suas obras, abordava temas como o amor, a morte e a infância. A obra em questão possui uma linguagem simples, sem preocupações com rimas ou métrica. Sua maior expressão está na palavra e na força que esta possui.

            A poesia de Manuel Bandeira caracterizou-se pela variedade criadora, desde obras parnasianas (poema Paisagem Noturna), pela prática do verso livre, até algumas poesias concretistas (poema A Onda). No entanto, é importante lembrar que este conservou e adaptou ao espírito modernista ritmos e formas mais regulares como os versos em redondilhas maiores. Nota-se também traços indicadores de uma sensibilidade romântica, sobretudo uma profunda tristeza, aliada ao desencanto e à melancolia. A confissão de seu estado de espírito, da presença do “eu” em poemas e da morte como inspiração consagra a sua aura romântica. Entretanto, observa-se uma constante ternura e paixão pela vida. Vale lembrar que o autor tinha tuberculose desde os 18 anos, fato que o faz trancar a faculdade e viver o resto de sua vida à sombra da morte.

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Suas temáticas

            Os poemas desse livro têm como temática a morte, a humildade, a infância e a sensualidade. Quatro pontos que permearam a vida do poeta. É possível notar também a busca pela significação das coisas e o lirismo forte e maduro cultivado pelo autor.

 

Análise do poema “A Estrela” – temática que aborda a sensualidade

            A sensualidade é uma temática bastante marcante em muitas obras de Manuel, no entanto, esta aparece de forma diferente, uma vez que o principal objeto de inspiração era as prostitutas.

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A estrela

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Põe que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alta luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.
(Lira dos cinquent'anos)

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            É possível notar através desse poema que a estrela é uma metáfora para a mulher. Esta apresenta-se de forma distante, linda e inalcançável. Vale ressaltar também a ironia presente nos seguintes versos: “E ouvi-a na sombra funda/ Responder que assim fazia/ Para dar uma esperança/ Mais triste ao fim do meu dia”, denotando que toda a esperança do eu lírico em um dia alcançar tal estrela era em vão.

            Percebe-se também uma certa melancolia do eu lírico (Para dar uma esperança/ Mais triste ao fim do meu dia). Pelo fato dele poder somente contemplá-la, fica deprimido. Portanto, Manuel Bandeira conseguiu englobar melancolia, ironia e utopia na mesma poesia, evidenciando sua genialidade.